O arco desliza sobre as cordas como se acariciasse memórias. O violinista de cabelos dourados e coque no alto da cabeça, raramente dorme duas noites seguidas no mesmo lugar. Palcos o chamam como faróis chamam navios — e ele atende, sempre.
Suas casas em Berlim ou New York são mais lembranças que moradia. Uma xícara de porcelana esquecida sobre a mesa, o cheiro de café que só existe quando ele está, o piano que reclama ser dedilhado. A torre de TV, visível da janela, parece observá-lo com paciência, como quem espera por alguém que sempre parte.
O Violinista não reclama, ama essa vida. Cada cidade lhe oferece um novo silêncio para preencher com música. Em Praga, o aplauso veio com lágrimas. Em Shangai, com reverência. Em Buenos Aires, com dança, em São Paulo com frenesi Mas é em Berlim, naquele café de fim de tarde, que ele sente o tempo parar. O violino repousa sobre a mesa, como se também precisasse respirar. O vapor da bebida sobe lento, como uma nota sustentada.
Ele sabe que está de passagem, que partirá de novo. Sabe que os trilhos da turnê o levarão para longe. Mas por um instante, entre o último raio de sol e o primeiro gole de café, o Violinista está em casa.
P.S. Este conto é um exercício de imaginação literária, uma homenagem à experiência de David Garrett quando em turnê — inspirado por sua trajetória, mas criado como ficção afetiva.
Imagem: ilustração criada pela IA Microsoft Copilot que lembra o perfil de David Garrett.

Nenhum comentário:
Postar um comentário