A matéria do “USD Student Media – 9/2/2010” registra a apresentação de um músico já conhecido na Europa e desconhecido nos USA, abrindo seu caminho em um país que ele chama de lar! Vale a leitura.
“O violinista alemão-americano David Garrett fez um show impressionante no restaurado Balboa Theatre, no centro de San Diego. Li pela primeira vez sobre ele há alguns anos atrás, quando ele foi manchete mundial por ter caído sobre o estojo de seu violino, em Londres. Seu Guadagnini, de 1772, ficou em pedaços. A receita do conserto? Oito meses na oficina, mas Garrett precisava do violino de volta mais cedo. Ele tinha outro show em Londres, no Dia dos Namorados. Em uma reviravolta muito boa para ser verdade, Garrett recebeu um Stradivarius para tocar dias antes do show, vindo de Milão. Ele tocou um Stradivarius de 1710 por algum tempo.
Foi uma história impressionante, cheia de intrigas. Encontrei a discografia de Garrett on-line e fiquei surpresa ao descobrir que tudo era importante; não havia informações nos EUA. Mas havia informações sobre Garrett, muitas delas na imprensa européia.
Mais intriga seguiu. Como poderia tal talento surpreendente, que já conquistou o público em toda a Europa e tocou na Índia e no Extremo Oriente, ser tão desconhecido nos EUA, o país que ele chamou de lar por quase uma década? Onde estavam os críticos musicais americanos? Sob um céu noturno claro do lado de fora do Balboa Theatre, no centro de San Diego, no último dia de fevereiro, fiquei imaginando quantos outros espectadores se perguntavam o mesmo.
Sua banda com quatro integrantes (bateria, baixo, guitarra e teclado) fez o seu caminho para o palco quando as luzes se apagaram, mas Garrett não estava em lugar nenhum. Então, as primeiras notas de “Carmen Fantasie” flutuaram pelo corredor, seguidas por Garrett andando como um menestrel, de alguma forma conseguindo tocar, andar e sorrir de uma só vez, seu violino conectado a um microfone sem fio para amplificar seu som.
Quando ele subiu ao palco, sua banda se juntou a ele em uma versão espanhola de estilo flamenco picante que rapidamente aqueceu o interior de estilo espanhol do teatro. O que se seguiu foram duas horas de vigor tão rico e requintado com Garrett e seus colegas de banda, uma maravilha; como eles poderiam manter essa intensidade no intervalo de uma apresentação, muito mais em uma turnê norte-americana de 22 cidades - a primeira de Garrett.
Vestido com uma camisa e jaqueta pretas e calça cinza brilhante, seu cabelo loiro escuro amarrado em seu rabo de cavalo habitual, Garrett ostenta calçados esportivos e tatuagens. Ele não se parece tanto com um violinista de formação clássica quanto com um roqueiro grunge à la Kurt Cobain, com quem ele tem uma ligeira e estranha semelhança. Então não foi muito surpreendente saber de seu amor pelo hard rock e heavy metal.
O que foi surpreendente era a sua incrível capacidade de trazer esses gêneros e outros para o reino clássico (ou é ao contrário?). Ao traduzir metal, rock, blues e R&B para violino, Garrett leva a música clássica para os ouvidos não clássicos e o Metallica para os aficionados clássicos, unindo e transformando as duas comunidades em uma única e criando uma linguagem musical desprovida de gênero e categorização.
Ao fazê-lo, Garrett estabelece sua própria voz única e um lugar individual entre um pequeno grupo de violinistas e outros músicos de mentalidade orquestrada, os quais têm se intrometido em formatos populares e contemporâneos como o indie rock e o hip-hop; pessoas como Owen Pallett, Julie Penner, Petra Haden, Lisa Germano, Emily Wells, Andrew Bird e Sufjan Stevens.
Relembrando a sua primeira compra de um álbum de rock (Queen's A Night at the Opera), Garrett lançou-se no lento fervor de "Who Wants to Live Forever". Ele continuou a subir na parada com covers improváveis de "Thunderstruck" do AC/DC, do Metallica. "Nothing Else Matters", "Kashmir", de Led Zeppelin, e "Smooth Criminal", de Michael Jackson, todos originais, sem diminuir o espírito e a integridade das músicas e dos artistas que as originaram.
Seria muito fácil esperar que o violino soasse estridente, se não gritante, em muitos desses heavy metals e talvez isso parecesse ainda mais porque é tudo som de violino - Garrett não canta uma palavra -, mas sua virtuosidade e destreza cria esses tons lindamente puros e comandantes em um novo contexto. Se o violino é o instrumento que mais se assemelha à voz humana, nas mãos de Garrett está tão perto da guitarra que é quase esquisito. Aturdida e balançando a cabeça em descrença durante toda a noite, eu nunca pensaria em um milhão de anos que um violino pudesse soar daquele modo.
Garrett não é meramente um fã hevy metal. Ele explicou seu amor por todos os gêneros musicais e como eles influenciaram sua prodigiosa formação clássica. Sua música se transforma em blues com o rock psicodélico “Ain't No Sunshine”, de Bill Wither ou no bluegrass de “Little Wing”, “Dueling Banjos”, de Jimi Hendrix, na trilha sonora de Deliverance e no musical norte-americano “Somewhere”, de Leonard Bernstein, de West Side History. A verdadeira dificuldade, no entanto, foi "Souvenir de Paganini" de Chopin, uma variação do "Carnaval de Veneza" de Paganini. Começa de forma bastante tranquila, mas rapidamente se torna complicada, cada compasso mais técnico do que a anterior. Garrett toca fazendo parecer fácil, mas claramente não é, e ele admite isso livremente. A peça é tão deslumbrante quanto a sinceridade de Garrett.
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Pulverizado sobre os seus próprios arranjos, incluindo uma versão perversa de "Flight of the Bumblebee" de Rimsky-Korsakov (para a qual Garrett está listado no Guinness Book of World Records, tendo tocado em 66 segundos), bem como composições que ele próprio escreveu, como a melancolia agridoce de “Chelsea Girl”. Essa “Chelsea Girl” não tem nada a ver com Nico ou Andy Warhol; é uma ode sombria para uma ex-namorada, o que levou Garrett a perguntar de brincadeira aos companheiros de banda: "E por que ainda estamos tocando isso?"
Garrett não é apenas um artista muito talentoso, mas também um genuíno e sincero contador de histórias, apresentando cada música com alguma estória, algumas anedotas e seu senso de humor fácil. Considerando a trajetória de sua vida, é uma prova de sua criação e das pessoas com as quais ele escolheu se cercar, o que lhe dá uma presença tão extraordinária, equilibrada e amigável. É algo que faz as pessoas o amarem ainda mais.
Olhando para o público, muitos rostos irradiavam como se os refletores estivessem ao contrário e talvez eles estivessem. David Garrett estava no palco, brilhando, uma estrela já descoberta em outros céus, agora aparecendo para o público americano olhando para o céu. Nós só precisamos manter nossos telescópios prontos para capturar seu futuro que será sempre brilhante.
David Garrett se apresentou no Balboa Theatre, em San Diego, em 28 de fevereiro/2010. Sua estréia nos EUA foi com o álbum auto-intitulado “David Garrett”.”
Fonte: http://uofsdmedia.com/5383/
Imagem: Pinterest
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