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quarta-feira, 18 de setembro de 2019

Abrindo uma pequena janela da alma!


Esta é uma excelente entrevista conduzida pelo músico Fuat Guner. Uma entrevista para ser ouvida ou lida com calma e atenção... atenção nas palavras que DG diz em bom tom e naquelas que estão subentendidas. Ele fala com um entusiasmo contido, simplicidade encantadora e maturidade, abrindo uma janela para aqueles que estiverem interessados em conhecer um pouquinho da pessoa além do músico, mostrando que ele carrega uma alma bonita que procura se conhecer e encontrar seu lugar de direito no universo, vivendo através do grande amor que ele carrega em seu coração: a Música!

FG: Estou feliz por você estar aqui!
DG: Eu também!

FG: Vamos falar sobre sua Infância. Como era naquele tempo?
DG: Bem eu cresci em Aachen, que é uma cidade pequena da Alemanha, eu tenho dois irmãos. Um irmão mais velho e uma irmã mais nova. Meu irmão é dois anos mais velho e ele começou a tocar violino aos 6 anos de idade e para mim, como irmão mais novo, claro que eu queria ter as mesmas coisas... você tem uma bicicleta, eu quero ter uma bicicleta, você tem roupas novas, eu também e foi a mesma coisa com o violino. Eu ouvia ele se exercitar e tentava imitar o que ele estava fazendo. Claro que minha infância foi completamente ligada à música, definitivamente com muita disciplina porque é um instrumento difícil de aprender, mas acho legal ter dois irmãos também, principalmente porque eram outros jovens em casa que também tocavam musica.

FG: Então você teve sorte...
DG: Sim, eu tenho sorte.

FG: Quem descobriu seu talento musical?

DG: Primeiro e principalmente meu pai é claro, tendo aulas com diferentes professores eu tive a sorte de poder aprender desde cedo com os melhores violinistas. Meu primeiro professor foi Zahar Bron, que era maravilhoso com crianças e garantiu que eu tivesse uma técnica sólida. Aos 11 anos comecei a trabalhar com Ida Handel; encontrei Yehude Menuhim aos 13 anos e trabalhamos muito juntos, Isaac Stern, acho que aos 14 anos e houve muitas lições com ele também. E claro, Itzak Perlman quando fui para a Juillard. Então houve muitas pessoas importantes.

FG: São ocasiões especiais, realmente, grandes violinista. Esta é uma grande felicidade.
DG: Wow... com Yehude Menuhim… eu tive a chance de tocar com ele regendo, eu tinha 16 anos, em Viena, num festival de musica, tocamos o concerto para violino de Elgar e claro isso foi uma grande honra, porque ele gravou com o próprio Edward Elgar, uma coisa sensacional.

FG: Quem eram seus ídolos quando vc era criança, principalmente como ouvinte
DG: Ouvi Menuhim durante toda a minha infância e, é claro, Isaac Stern... pessoas que idealizei, com quem tive a honra de trabalhar, mas havia outros como Jascha Heifez, Fritz Kreiler, mas eles não estavam mais vivos. Se estivessem talvez eu tivesse a sorte de trabalhar com eles. Mas existem grandes violinistas, especialmente da idade de ouro e todos soam singulares, e isto é algo que eu sempre tentei imprimir ao meu toque.

FG: Geralmente a educação conservadora leva os músicos à uma compreensão conservadora...
DG: Ah, sim, o mesmo aconteceu comigo..

FG: Mas você quebra as regras...
DG: Bem, talvez nas roupas e talvez com meus arranjos fora da música clássica, mas a educação que recebi foi muito conservadora, mas não acho que isso seja uma contradição, porque no final eu toco violino, como deve ser tocado, frase, vibrato, estilo, eu gosto de adaptar o que aprendi em diferentes aspectos.

FG: Porque vc decidiu fazer isso?
DG: Como tudo na vida, foi um processo de longo prazo, você começa e... eu acho que a primeira coisa é saber o que você gosta na música, o que você gosta de ouvir. Eu gosto de ouvir musica clássica, mas também gosto de pop, rock, jazz, ritmos e blues, estes são os estilos de música que gosto de ouvir e eu sou musico, um musico contemporâneo, e para mim excluir do meu instrumento a música que eu gosto, não faz sentido. Claro que meu primeiro amor é a música clássica, mas outras coisas me interessam e tento adaptá-las na minha vida musical.

FG: E você tem sido bem sucedido com isso...
DG: De alguma forma eu tive sorte...

FG: Qual foi o ponto de virada da sua carreira musical?
DG: É difícil... acho que o primeiro ponto de virada foi quando, no começo da minha carreira, ganhei um contrato com a Deutche Grammophon, aos 13 anos. Basicamente foi a porta aberta para uma carreira clássica, poder gravar com Claudio Abbado e muitos grandes regentes, ter uma gravadora do maior prestigio acreditando em um garoto de 13 anos tocando violino, este foi o primeiro marco. Então, mais tarde, eu parei de fazer turnês, fui para a Julliard e lá trabalhei por 4 anos com Itzak Perlman e acho que isto foi outro marco musical, porque começaram meus shows crossover e tive a ideia de fazer um CD com minhas próprias músicas e novos arranjos, que primeiro apresentei a minha gravadora Universal, mas eles não ficaram interessados, devo admitir. Mas não desisti, Tentei outras empresas e acho que o fato de uma gravadora dizer que acredita nisso foi o segundo marco.

FG: Qual foi seu show inesquecível? DG: Bem, existem vários... toquei para o Papa, toquei para a Rainha, toquei para Barack Obama... bem provavelmente não são os concertos que estão realmente em minha alma, mas me dá prazer falar deles... mas acho que os momentos mais singulares e especiais para qualquer musico é quando você sobe no palco, depois de treinar muito e tudo fui... então está tudo no lugar certo, mente e corpo. Não importa se toco para 200 pessoas ou 20 mil. Se você toca para 200 pessoas e tem um ótimo desempenho, você sente-se muito feliz. Se você toca para 20 mil e tem um show insosso, nada tem graça. Precisa fluir para você saber que tudo funciona e se sentir feliz de verdade. No final, sucesso não significa nada se você não estiver feliz consigo mesmo. FG: Como você define seus álbuns?
DG: Eu nunca inicio com um conceito, não é como sou; é uma ideia que eu combino com qualquer musica que encontro e esta combina com a ideia. Normalmente começo com 1,2,3,4,5,6 peças que nada tem a haver uma com a outra, mas o que estou procurando é uma peça que realmente funcione, então eu experimento muito. Estilos de musicas diferentes, composições minhas, apenas som, experiências diversas e se eu encontrar algo como: Oh isso é bonito... esta direção funciona e então eu tenho de encontrar 2-3 outras peças nessa direção e se funciona é quando o conceito começa a nascer, começa por si mesmo. Mas eu nunca tive... eu sei que os produtores de discos sempre dizem música de filme, isso ou aquilo... como músico eu não vejo o álbum inteiro, eu vejo uma arvore, não quero ver a floresta inteira... e se eu tiver uma arvore, posso subir nela e a floresta estará lá.

FG: Voce se apresentou em Istambul 2015. E vai se apresentar de novo em setembro/21, certo?
DG: Sim, foi um clássico, eu executei o concerto para violino de Tchaikovsky.

FG: Quais foram suas expectativas sobre o publico?
DG: Bem eu havia me apresentado em Istambul no ano anterior a 2015 e foi muito emocionante porque fizemos um revitalismo clássico, tocamos Tchaikovski por duas vezes e hoje estou muito empolgado por tocar lá de novo e finalmente chegar com meu crossover e ver quais serão as reações ao meu programa. Quero dizer, em todo o mundo... eu sou uma pessoa feliz, um músico feliz porque as pessoas estão entusiasmadas com o que faço, e particularmente animado com o concerto de 21 de setembro, porque estou fazendo crossover pela primeira vez e acredito que as pessoas ficarão felizes com o programa que já colocamos na Alemanha, Suiça e Áustria. É uma ótima jornada musical, dos clássicos ao rock e jazz, passando pela musica cinematográfica.

FG: Voce teve tempo para explorar Istambul? DG: Estou familiarizado com os hotéis, para mim, além de me apresentar, a segunda coisa importante é estar em um bom hotel, em um boa localização, porque esta é a minha vida. Você precisa se sentir confortável. Mas também quando você viaja, trata-se de quem você é, porque não tenho tempo disponível e preciso encontrar um hotel que esteja bem localizado, num lugar animado. A ultima vez tive a sorte de estar próximo ao Bósforo. Fazemos caminhadas quando tenho tempo livre, depois de verificar o sistema de som e fazer exercícios, claro que tento visitar a cidade. Você é um musico, nasceu musico, mas aprende a ser uma pessoa de negócios, infelizmente. Quando estamos em turnê são dois shows seguidos que estão em cidades diferentes, então um dia de folga, que geralmente é um dia de viagem, ou 3 concertos seguidos e depois novamente um dia de viagem mais longa. Então, basicamente, é muito pouco tempo e por isso eu acho que o hotel deve estar um local onde eu possa sentir a atmosfera do lugar em que estou.


FG: Esta planejando um novo projeto?
DG: Estou pensando em muitas coisas agora, como eu já disse, antes de olhar para muitas arvores eu estou tentando encontrar minha floresta... mas existem alguns bons projetos... tenho sorte de ter sempre muitas ideias e agora eu tenho de direcionar essas ideias para o projeto certo... talvez todos os projetos sejam certos, mas eu preciso sentir que ESSE é o projeto certo, pelo menos nesse momento.

FG: Algum sonho que você gostaria de realizar?
DG: Meu sonho é permanecer saudável e ter pessoas ao meu redor que me amem tanto quanto eu as amo.

FG: Lindo! Talvez muitos façam essa pergunta que vou fazer...
DG: A beleza da vida é que você pode fazer as mesmas perguntas, mas as respostas sempre podem ser diferentes.

FG: Foi um acidente grave quando você quebrou seu violino, como isso aconteceu? DG: Bem eu toquei no Barbican em Londres, num concerto de Natal, e está tão vívido na minha memoria... e toquei Mendelssohn, meus pais chegaram, minha irmã esta lá e nós queríamos celebrar o natal juntos e fomos para o estacionamento, onde estava o carro de meus pais e chovia, o piso estava escorregadio, eu não segurei no corrimão da escada e escorreguei com meu violino nas costas em seu case e cai... se o violino não estivesse comigo eu certamente teria sido machucado, mas eu estava bem... parecia uma cena cômica, cai de costas, escorreguei bum, bum, bum e o violino foi o travesseiro que protegeu minhas costas e, infelizmente, quando abri o case, ele estava severamente rachado... fizeram um trabalho incrível com ele, mas para mim, pessoalmente, ele não tinha o mesmo som após o reparo.. talvez isso fosse subjetivo, porque para mim o violino havia ficado tão danificado, que embora o trabalho fosse perfeito, meu coração ainda estava partido. FG: Como as novas gerações se interessam pela musica clássica?
DG: Acho que o interesse pela música clássica em geral é enorme. Olhe as pessoas... a música esta em todo lugar... podemos nos concentrar na clássica ou qualquer outro gênero... eu acho que ouvir musica clássica... todo mundo fica animado.. e é tão variada.. eu quase estou nessa idade em que tenho de conversar com pessoas mais jovens... eu me lembro de ir a loja de música, que nem existem mais, mas me lembro de ir a loja e gostar... eles tinham setores diferentes, pop, rock, jazz, clássica... e não era legal ser visto em certos escaninhos nas lojas... espero que meus amigos não me vejam... mas a beleza do presente é que qualquer prazer musicalmente pecaminoso, qualquer coisa que você goste de ouvir, você pode ouvir sem hesitação, pessoas querem ouvir o que gostam de ouvir e isso serve para todos os estilos de música e acho que esta é a chave para a boa música e isto, inclusive música clássica.

FG: Vamos falar sobre o Violinista do Diabo. Você interpretou a vida de Paganini neste filme. Como foi isso?
DG: Olhando para trás, isto foi algo que amo com meu coração. Eu lembro durante as filmagens, havia um ritmo diferente, você fazia muito durante 40-50 minutos e depois não havia nada para fazer pelo resto do dia, apenas ficar esperando definições de cenário e outras coisas. Por sorte tive o violino para praticar durante esse período, mas durante as filmagens eu me senti entediado. Entendo que é um processo que eu nunca havia feito antes e não sabia o que esperar.

FG: Como foi ser Paganini?
DG: Bem posso me referir ao nosso script, tocamos o mesmo instrumento, passamos pelas mesma situação para nos tornarmos um bom violinista, praticamos desde muito cedo, você sempre tem alguém que o força e eu também conheço o lado ruim da fama, ter sorte suficiente para ganhar um bom dinheiro e essas não são só coisas boas... mas existem coisas realmente boas é claro... então existem referências entre ele e eu que usei para fazer a trilha do filme com Franck van der Heijden. Foi um sonho tornado realidade.

FG: Você consideraria outro projeto como esse?
DG: Sinceramente não, eu acho que não sendo ator e tendo desempenhado o papel principal no filme, não foi o melhor... FG: Acho que você pode ser um ator bonito DG: Eu não sei... eu gosto de fazer coisas nas quais eu sou bom, então é isso que está aí atrás (o violino) mas eu gosto de conhecer aquilo no qual não sou bom, mas não faze-las profissionalmente. Mas para esse projeto eu tenho que contar que fui eu quem disse: deixe-me faze-lo, porque nenhum ator no mundo poderia aprender violino o suficiente para que parecesse ser feito corretamente. Eu tive 20 anos de trabalho duro antes disso.

FG: Você tem algum hoby?
DG: Eu gosto de correr, gosto de atividades físicas que acho que são muito importantes, comecei a fazer meditação e gosto muito... Qigong todos os dias... porque acredito que é um equilíbrio para meu corpo que eu aprecio... além disso gosto de ver apartamentos... este é um hobby estranho, mas gosto de arquitetura... para mim arquitetura é algo visualmente inspirador e tudo que me inspira eu gosto de absorver como uma esponja... quando tenho um sábado ou domingo sem compromisso, eu olho casas e apartamentos... você sabe é algo que gosto...

FG: Sabe que sou engenheiro civil?
DG: Eu não sabia..

FG: Trabalhei como engenheiro civil por muitos anos, mas em um momento eu disse; OK, sou musico, não quero mais ser engenheiro de construção.
DG: Sim, acho que a música... é claro quando você é muito jovem, você faz isso instintivamente, pelo coração, mas quando você envelhece, seu instinto não está mais 100% correto, então você tem que aprender a moldar seu cérebro, como moldar músicas, como moldar gêneros, como moldar notas e este conhecimento é muito importante porque corresponde ao seu instinto e uma vez que você conhece a estrutura, então você é um músico de verdade, porque seu cérebro lhe diz o que não fazer e seu coração lhe diz o que fazer e este é o equilíbrio perfeito.

FG: Muito obrigada pela bela entrevista!
DG: Absolutamente.. eu agradeço!

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