By Karina Gomes
"Assim que me mudei para a Alemanha, percebi um silêncio incomum nas ruas. Eu podia andar tranquilamente com a roupa que fosse que raramente seria incomodada por um homem. As cantadas acontecem, mas não com frequência. O mesmo se refletiu em festas (com exceção do Carnaval), em que o flerte era lento. Dei-me conta que quem geralmente toma a iniciativada conversa é a mulher.
A sensação é de estar num país de empoderamento feminino. No dia a dia, a objetificação do corpo da mulher não é uma máxima na Alemanha. Em geral, não há uma busca de validação social por meio da aparência física. O que mais importa é uma atitude independente e forte, com falas diretas.
O conceito de "powerfrau" (mulher eficiente e cheia de força), às vezes usado para caracterizar a chanceler federal alemã, Angela Merkel, é bem difundido.
A ideia de igualdade de gênero é contínua na Alemanha. Uma peculiaridade curiosa que percebi com a minha experiência é que nem sempre um homem vai se oferecer voluntariamente para carregar as malas pesadas de uma mulher na rua. Se a pessoa pedir, claro, serão gentis. Mas não se pressupõe que a mulher pelo simples fato de ser mulher não será capaz de carregar a mala sozinha.
Ainda assim, as disparidades de gênero persistem. Segundo dados do Departamento de Estatísticas da União Europeia (Eurostat), de 2016, a diferença salarial entre homens e mulheres no setor privado alemão é de 21,6%, percentagem maior do que a média da União Europeia (UE), que é de 16,5%. A participação das mulheres no Parlamento alemão também é a menor dos últimos 20 anos - pouco mais de 30% das cadeiras.
Há 100 anos, o movimento feminista alemão impulsionou a luta das mulheres pelo direito ao voto. O feminismo na Alemanha passou por diversas fases e foi por muito tempo entendido como hostilidade contra homens. Essa visão é atualmente substituída por um feminismo pragmático, que busca igualdade de direitos no dia a dia e que também luta contra a violência sexual.
Isso se reflete em alguns exemplos, como a divisão de responsabilidades entre homens e mulheres na criação dos filhos. Na Alemanha, há licença paternidade de cerca de um ano, tempo que pode ser distribuído entre o casal. Por exemplo: o homem pode se afastar do trabalho por três meses para cuidar do bebê, e a mãe, por nove. Essa divisão mais igualitária de tarefas é incentivada por políticas governamentais."
Na coluna Alemanices, publicada às sextas-feiras, Karina Gomes escreve crônicas sobre os hábitos alemães, com os quais ainda tenta se acostumar. A repórter da DW Brasil e DW África tem prêmios jornalísticos na área de sustentabilidade e é mestre em Direitos Humanos.
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