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sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

O fim de Alemanices!


Depois de cem colunas sobre as peculiaridades da vida na Alemanha, Karina Gomes encerra os textos sobre a sua relação de amor e ódio com o país que a acolheu. 

Karina Gomes 
Confesso que escrever a coluna "Alemanices" foi um processo de cura. Com exatos cem textos sobre o modo de vida alemão, posso dizer que estou em paz com todas as perplexidades, espantos e risadas que os últimos cinco anos na Alemanha me causaram. 

Cada texto foi um desabafo sobre os choques culturais que vivenciei. A cada semana de reflexão sobre minha experiência na Alemanha, também aprendi sobre peculiaridades, costumes e hábitos que nem conhecia. 

Meus primeiros anos de Alemanha não foram nada fáceis, numa relação constante de amor e ódio. Enquanto achava incrível ver os jardins urbanos no coração das cidades , poder separar meu lixo para a reciclagem e andar sozinha nas ruas de madrugada com quase nenhuma preocupação, me irritava com a grosseria – ou em tradução mais precisa – a honestidade dos alemães com suas falas diretas, sem filtro, num "doa quem doer". 

Tive que me controlar para não ajudar uma criança de dois anos a se levantar enquanto a mãe, apesar de ver o pequeno chorando, dizia "vamos, levante-se, não foi nada" . Mergulhei no desafio de ir a uma sauna e seguir a regra explícita de andar nua – com as altas temperaturas, vestir roupas de banho não é higiênico e pode causar doenças. 

Passei a achar normal ver pessoas se enrolando numa canga para tirar o biquíni antes de deixar o rio, o lago ou a praia, me acostumei a jogar papel higiênico no vaso , e a abrir a janela de casa mesmo quando faz menos 1 grau lá fora para ter um pouco de ar fresco. Meu banheiro sofreu uma inundação, porque lavei tudo sem saber que não existia ralo . As toalhinhas de mão , que muitas vezes substituem um banho de verdade, eu nem arrisquei testar. 

Recebi olhares reprovadores e até uma bronca em voz alta por atravessar a faixa quando o sinal para pedestres estava vermelho e tive que adaptar cada parte do meu ser para me tornar uma pessoa pontual . Sofri com a inflexibilidade de horários e a ausência total do "jeitinho" para todas as situações da vida. Nessa batalha interna, me vi sem chão, sabendo ao mesmo tempo do grande aprendizado que se construiu nessa alma tão brasileira. 

Cada "alemanice" me ensinou novas formas de ver a vida e de conviver com os outros. Tenho de confessar que nunca tive o sonho de viver na Alemanha e que, quando pisei no país pela primeira vez por motivos profissionais, nem sabia a diferença entre der, die e das. Definitivamente, carrego cada dor e risada desse período de adaptação. 

Também preciso confessar que meu noivo alemão foi uma parte ativa nessa coluna, sempre se envolvendo em todos os temas, me dando dicas sobre determinados tópicos, e depois me perguntando sobre a repercussão dos textos nas redes sociais. Cada "reunião de pauta" às sextas-feiras foi uma troca intercultural riquíssima para nós dois. 

A coluna acaba por aqui, mas não porque todas as "alemanices" estejam esgotadas. Um olhar curioso conseguirá encontrar ainda muito mais peculiaridades sobre a vida alemã. Deixo vocês com as cem perspectivas mais interessantes que a minha experiência na Alemanha permitiu contar e que curaram todas as controversas e conflitos internos. Levo cada "alemanice" no peito e na alma. Tschüss!

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