O “Messias” de Antonio Stradivari, feito em 1716, é ao mesmo tempo o mais bem preservado de todos os seus instrumentos existentes e um exemplo do auge de seu “Período de Ouro”. Devido à sua condição de novo, foi doado ao Museu Ashmolean/Oxford em 1940 pela empresa de WE Hill & Sons com a condição expressa de nunca ser tocado e com restrições estritas de acesso, o que significa que mesmo a maioria dos especialistas e fabricantes de violino não terá a chance de segurá-lo em suas mãos e estudá-lo significativamente fora de sua caixa de vidro, o que lhe retira a utilidade e apenas lhe confere um destaque especial, brilhando em vermelho e contrastando perturbadoramente com os instrumentos levemente desgastados e desbotados, na sala onde está exposto.
Mas, além disso, o Messias tem sido há séculos um instrumento polêmico. Desde que a notícia da existência desse violino chegou aos negociantes parisienses na década de 1820, sua existência e autenticidade sempre estiveram envoltas em ceticismo, culminando em um grande abalo em 1998, quando um especialista americano testou a origem, proveniência, artesanato e documentação do instrumento, ocorrendo, então, o inesperado: os testes de carbono mostraram, que a madeira só havia sido derrubada após a morte de Stradivari e que o violino não poderia, portanto, ter sido obra do mestre artesão. Isso foi uma sensação internacional que gerou um escândalo, posteriormente foi corrigido, mas deixando marcas.
Ao longo dos últimos dois séculos, entretanto, essa controvérsia tem sido cheia nuances, como um bom trilher, envolvendo muitas acusações, teóricos da conspiração, máfia de comerciantes, conluios desonestos, falsificadores, especialistas, relatórios e estudos, tudo para o bem e para ao mal, em uma competição acirrada.
Assim, até agora, através dos mais modernos métodos de investigação que existem, três vertentes separadas de ciência forense que foram capazes de fornecer evidências de apoio independente para a autenticidade do Messias como 1) É um violino de fabricação cremonesa clássica; 2) feito usando a mesma fonte de madeira precisa usada por Stradivari em torno do ano 1716; 3) feito em seu ateliê utilizando técnicas que lhe são familiares e utilizando moldes de Antonio Stradivari que ainda subsistem no Museo del Violino. Isso tem a equivalência de encontrar a evidência de impressão digital, evidência de DNA, ou seja, a impressão da bota enlameada na cena do crime e a bota que corresponde a ela.
Mas, muitas perguntas persistem, como esta, por exemplo: Quem fez esse instrumento na oficina Stradivari? Especula-se foi a mão do jovem Giovanni Baptista Martino Stradivari, na grande esperança de suceder seu pai, em uma oficina que incluía mais outros três filhos.
Enfim, a controvérsia vai morrer? Provavelmente não. Sua preservação em condições quase perfeitas é uma contradição absurda para os violinos que estamos acostumados a ver, mas essas são as mesmas razões pelas quais o comércio de Paris de 1820 estava pasmo com a possibilidade tentadora de que pudesse existir. Entender o Messias é uma jornada essencial para qualquer fabricante de violino que busca compreender Stradivari no seu melhor e mais puro, mas isso tem que começar com descrença e incredulidade, o que significa que gerações de futuros fabricantes de violino nunca deixarão de questioná-lo quando o abordarem pela primeira vez. Delphin Alard pode tê-lo nomeado porque “sempre se espera por ele, mas ele nunca aparece”, mas no século 21, entretanto, Messias é um nome ainda mais apropriado por causa da prova de fé que exige.
Fontes: https://violinsandviolinists.com/2017/12/22/stradivaris-fabled-messiah-three-centuries-on-the-most-controversial-violin-in-history/
https://www.natashakorsakova.com/messias-die-geschichte-der-beruehmtesten-geige-der-welt/?lang=en
https://www.forbes.com/2001/01/10/0110connguide.html?sh=1a2198e93269
https://tarisio.com/cozio-archive/property/?ID=40111
Imagem Messias:
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/1/1d/Messiah_Stradivarius.jpg
Imagem DG: Sem crédito na web
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