Como se explica alguém como David Garrett? Talvez começando pela suavidade de Sicilienne... harmonia para fazer a garganta fechar e uma lágrima salgada encher o canto do olho, enquanto a magia intensa da melodia nos atinge com uma força avassaladora... ele parece tocar para as estrelas... seu rosto tem o sorriso mais doce... e ele dedilha seu violino movendo-se com cuidado em um espaço minúsculo... toca, fecha os olhos sentindo um frisson... seus cabelos estão sempre amarrados, mas não gostam disso e aos poucos vão se rebelando...
Então, ele pára e sua voz tão agradável e conhecida preenche o espaço, conversando com todos e cada um, um momento breve e a música o envolve novamente, deixando tudo mais sem importância...
Ele movimenta os dedos, mexe o braço, bebe água, talvez preferisse um chá... ele deseja a próxima música, sorri, responde perguntas, brinca com o público, pisca os olhos e espera sua deixa... e faz os corações dispararem como algo trivial.
O palco parece o altar de uma igreja, o santuário de onde ele abençoa os corações com o som da música... deixando as almas repletas de notas melódicas, repletas de uma alegria inebriante.
Como explicar alguém como DG? Como você encontra uma palavra que o traduza? Um violinista, um gênio, um talento, uma luz na escuridão, um roqueiro, um clássico, um rebelde, um bom garoto? É como decifrar a própria música. É como seguir o arco íris ou desejar manter uma onda sobre a areia, querer parar o vento ou manter um raio de luar sobre a mão!
Como explicar a música de DG - o turbilhão de um giro do dervixe - gentil e selvagem, enigmática e caprichosa, criativa, envolvente, generosa, uma luz que nos guia, um momento de verdade, uma sedução tal qual um chocolate!
Como explicar a paixão que ele emana? Como entender o encanto que ele provoca, como não ficar fora de foco e entorpecido, sem nem mesmo saber onde estamos, diante da imprevisibilidade da próxima melodia?
Como não se sentir leve como uma pluma ou fervendo dentro do inferno diante deste feiticeiro que mistura clássicos e rock em seu caldeirão, servindo-nos com a simplicidade de um chá das cinco... como não ficar atônito ao entender que ele tem nas mãos o dom de curar qualquer tristeza, ainda que seja por alguns instantes que vão ficar tatuados para sempre na memória e alma de quem recebe tal carinho?
Sem explicações... questão difícil! Tão difícil quanto dizer “auf wiedersehen” quando tudo termina, pois parece que mal começou e queremos muito mais... mas, também, é quando, afinal, percebemos que ele simplesmente nos entregou sua alma traduzida em melodia!
Entrenotas/Nisia